Em janeiro passado (26/01/2014),
a Folha entrevistou nove estrangeiros que moram em São Paulo e pediu para que
listassem suas impressões sobre a cidade. Um irlandês comentou que o
brasileiros tomam muito banho. Completo dizendo que os brasileiros tomam muito
banho enquanto vivem no Brasil.
Se você ficar hospedado nas redes
de hotel aqui na Inglaterra, pelo menos na rede do Holiday In, você mantém o
ritmo de banhos tupiniquins. A água é deliciosamente quente, você pode planejar
sua agenda em baixo do chuveiro e repensar nos erros do passado como se
estivesse abaixo da linha do Equador.
Quando você aluga um apartamento
para morar, a coisa não é bem assim. Na hora que você assina o contrato de
locação, ninguém o avisa que seus banhos longos acabaram-se. Que você não
poderá mais recitar “O Guarani” embaixo do chuveiro e nem cantar “Tarantela”,
talvez um rápido “Atirei o Pau no Gato” em ritmo acelerado.
O senhorio nos disse: “Se vocês
não gastarem água quente durante o dia, terão água para tomar banho à noite”.
Depois, em caixa alta, fonte Arial, tamanho quarenta, ele completou: “Mas em
caso de emergência, vocês tem a opção de ligar o aquecimento elétrico, mas é
muito caro (essa última parte em fonte Arial, caixa alta, tamanho quarenta e
dois em negrito e sublinhado).
Mais tarde compreendemos que não
gastar água quente durante o dia, significa não tomar banho ao acordar para
poder tomar banho antes de dormir, talvez lavar a sobrancelhas.
Ainda não recebemos a conta de
energia para decidir qual dos banhos serão banidos do nosso cotidiano, estamos
arriscando e ligando o aquecedor elétrico à noite.
Mesmo assim, me vejo tomando
banho como meus antepassados italianos no século dezenove, tenho que decidir
qual parte do corpo vou contemplar, lavar o corpo todo virou um verdadeiro
luxo.
O mesmo irlandês disse que os
brasileiros escovam os dentes a cada refeição (o que me parece óbvio), e que na
Irlanda a higiene dental não é tão importante. Aqui, também, parece não ser
importante, nunca vi alguém com aparelhos ortodônticos e algumas mulheres, até
que bonitas, quando sorriem você tem vontade de dizer: “Querida mantenha-se
sempre séria, please!”.
Uma professora panamenha disse
que as brasileiras tem mania de limpar tudo com água sanitária, calçadas,
casas, carro e, que talvez, até o cachorros.
Aqui a coisa é mais simples, na
compra de supermercado, você compra no máximo três ou quatro itens de limpeza.
O banheiro não tem ralo, então a limpeza é na base do paninho. A cozinha é
conjugada com a sala, então o piso é carpete. Um carpete ótimo, desses que não aparece
a sujeira.
Na minha primeira compra de supermercado
fui até a prateleira pegar uns panos de limpeza, o rapaz que estava fazendo
compra ao meu lado, olhou-me indignado e disse alguma coisa que não entendi,
mas que me pareceu ser o seguinte: “Você vai agachar para limpar o chão, ficou
louca?”. Pega essa vassoura cabeluda que é muito mais prático”. Olhei para o
carrinho dele e vi a vassoura cabeluda, dessas que só vemos no Brasil sendo
usadas pelas faxineiras dos shoppings ou dos aeroportos. Olhei para ele e
disse: “ That’s good idea!”. Devolvi o pano e peguei uma vassoura cabeluda. Ele
deu um grito de alegria como quem havia acabado de libertar a Escrava Isaura.
O sistema de iluminação aqui é
daqueles que escurecem o ambiente, isso é muito bom porque você passa a não
enxergar a sujeira, você deixa de perceber as rugas no rosto, nem nota as sobrancelhas
crescerem fora de contexto e muito menos os cabelos brancos. E, assim, a vida
vai ficando mais simples.